terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Senna na Ferrari

Era sobre as costas de Ayrton Senna, e não de Michael Schumacher, que a Ferrari planejava escrever as páginas da ressureição quando vivia o auge de sua pior fase na história da Fórmula 1. Em setembro de 1993, o time amargava um jejum de três anos sem vitórias. Não ganhava um título desde 1979.

A crise parecia insolúvel. Foi quando aconteceu uma longa reunião secreta na Itália, muito provavelmente em Maranello, e uma data foi estabelecida para o casamento de dois dos maiores mitos da categoria, um vermelho, o outro verde e amarelo: 1995, ano em que o alemão foi contratado, para estrear em 1996.

Senna, tinha 33 anos em setembro de 1993 e, àquela altura, um compromisso firmado com a Williams para a temporada seguinte. Mas acalentava um sonho antigo, que um mês depois desse encontro, em sua última entrevista exclusiva a um jornalista brasileiro como piloto da McLaren, em Portugal, descreveu de maneira oblíqua como "uma idéia, um plano íntimo, uma meta bem definida" para o futuro, sorrindo ao seu interlocutor diante da pergunta óbvia, e a ele feita inúmeras vezes no passado: seria a Ferrari?

Na edição em que a entrevista foi publicada, no dia 1º de outubro de 1993, o jornal "Folha de S.Paulo" usou a expressão "plano secreto" na manchete, sem especular sobre o que seria, nem ao menos citando o time italiano, já que Ayrton estava assinado com a Williams e faltava apenas o anúncio oficial.

A revelação sobre o encontro de 1993 entre Senna e a Ferrari foi feita na noite de 15 de janeiro de 2008 por Jean Todt, diretor-geral da equipe, em Madonna di Campiglio. O segredo foi guardado por mais de uma década. Todt havia sido contratado pelo time italiano dois meses antes. "Eu o conhecia pouco, porque tinha acabado de chegar à F-1. Mas tivemos uma longa reunião com ele, na semana do GP da Itália. Foi quando falamos de um eventual futuro na Ferrari em 1995. Mas isso não pôde ser concretizado...", disse o francês, que emocionou-se ao lembrar do brasileiro morto em Imola no dia 1º de maio de 1994.

O GP da Itália de 1993 aconteceu no dia 12 de setembro, em Monza. Senna tinha acertado a vida com a Williams entre julho e agosto, embora o contrato ainda não tivesse sido oficialmente anunciado. Todt sabia disso, como todo mundo no paddock. Mas o fato não impediu que ambos discutissem o que se supõe agora que fosse o tal "plano íntimo" mencionado por Ayrton duas semanas depois no Estoril.

Todt contou que ficou "impressionado" ao ver que "um personagem como Senna estivesse interessado pela Ferrari". "Hoje entendo, porque a Ferrari é um mito, e por isso é compreensível o desejo de um piloto como ele de fazer parte da equipe. Mas em 1993 estávamos verdadeiramente mal", lembrou. De fato, a equipe terminou o Mundial em quarto lugar com ridículos 28 pontos, atrás da Benetton, que fez 72, da McLaren, com 84, e da Williams, que conquistou o título com 168.

Isso não impediu que, na mesma entrevista feita dois dias depois do GP de Portugal, numa época em que ninguém apostaria uma pataca furada no time vermelho, Senna respondesse com firmeza à última pergunta, um pedido para que traçasse um panorama para o Mundial de 1994. "Acho que a Ferrari é quem vai crescer mais", disse, sem pestanejar. Talvez fosse um recado, no mínimo uma gentileza com endereço certo. Compreendida agora, mais de dez anos depois.

Então meus amigos, essa foi pra provar de vez de que, se Ayrton Senna estivesse vivo, Schumacher não teria conguistado seus cinco títulos pela Ferrari, Senna poderia ter se consagrado de vez como o maior piloto de todos os tempos na F1.

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