quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

SAIDEIRA

Apenas Alain Prost, com a McLaren, e Nelson Piquet, com a Brabham, ficaram à frente de Senna no grid de largada da última corrida que ele disputou pela Toleman, o GP de Portugal, em Estoril, o último da temporada de 1984. Ayrton queria uma despedida de gala, já que na corrida anterior, o GP da Europa, em Nurburgring, ele se envolvera numa batida múltipla na largada e fora acusado de tirar da prova a ATS de Gerhard Berger, a Arrows de Marc Surer e a Williams de Keke Rosberg. Quem acusava era Keke, e ele tinha um motivo especial: seu capacete fora carimbado pela Toleman, quando Senna passou voando sobre ele.

Em Portugal, a marca deixada por Ayrton foi mais psicológica. E a vítima foi Michele Alboreto e sua Ferrari, ultrapassados na última volta. Além do troféu do terceiro lugar, Senna garantiu uma posição privilegiada no pódio para apreciar a festa do tricampeonato de Niki Lauda, segundo colocado na corrida, e a ironia que o sistema de pontuação havia preparado para Alain Prost, vencedor da prova e vice-campeão por meio ponto.

Mais espetacular do que a façanha do domingo, no entanto, foi o que Ayrton fez na segunda, na mesma pista, arquibancadas vazias, na última vez em que entrou no cockpit de uma Toleman.

O pedido de Alex Hawkridge foi irresistível: ele queria que Senna fosse para a pista e marcasse um bom tempo de volta para, desse modo, dar à equipe uma referência em relação aos outros pilotos e carros.

Os outros, naquela manhã, eram Roberto Moreno, Manfred Winkelhock, Jan Lammers e Ivan Capelli. Senna foi para a pista com uma Toleman reserva equipada com pneus macios de corrida. Deu meia dúzia de voltas e cravou 1m21s70, um tempo três milésimos mais rápido que o da pole position conquistada para a corrida da véspera por Nelson Piquet, com a Brabham calçada com velozes pneus de classificação. Por trás do guard-rail, na descida que antecede à curva Ingo Hoffinann, uma das mais difíceis de Estoril, Brian Hart quis acompanhar de perto a última façanha de Senna com o motor que levava seu nome.

Ganhou de brinde inacreditáveis acenos de mão de Ayrton, de dentro do cockpit, no exato momento em que ele produzia aquelas voltas fantásticas.

por Ernesto Rodrigues

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