sábado, 2 de maio de 2009

Ayrton Senna: Como venci em Mônaco,1992

Digitalização e divulgação na internet aos méritos de Fábio Bill.



Como venci o Williams de Nigel Mansell


Vencer pela quinta vez em Mônaco foi muito importante para mim. Mas é preciso encarar a realidade: esse resultado não muda o quadro da temporada. Os Williams são mais velozes que os demais adversários e a derrota na sexta prova do ano só aconteceu em razão de um contratempo de Mansell.

O que fazer então? Eu é que não vou assistir de braços cruzados à supremacia da Williams. Em Mônaco fui à luta porque senti a possibilidade de surpreender logo na largada. Era a chance de ganhar uma posição na freada, se não fizessem muito ziguezague na minha frente.

E, para ser bem sincero, poderia ter ultrapassado também o Mansell na freada.

Faltou mais ousadia. Não acreditei que eles fossem brecar tão cedo e acabei me esforçando para superar apenas o Patrese.

No início da corrida, adotei a es¬tratégia de poupar os pneus. Se tivesse forçado o ritmo, acabaria com eles em pouquíssimas voltas. Atualmente, os motores têm tanta potência que, nas saídas das curvas lentas, a máquina patina muito. Resolvi, então, me empenhar para manter a diferença de 20 segundos que me separava de Mansell.

Foi difícil. Houve momentos em que tive de conversar comigo mesmo para não perder o controle. "Presta atenção, olha a concentração", eu gritava. Consegui conservar a distância até que, na saída da Mirabeau, a menos de 20 voltas, fiquei de frente com o Michele Alboreto atravessado na pista. Parei, engatei a primeira e perdi uns 10 segundos.

Vi a luz no fim do túnel de Mônaco quando Mansell parou nos boxes para trocar os pneus. Eu ia novamente correr para vencer. Ao entrar na reta, percebi que Mansell ainda não havia saído, porque os engenheiros, que geralmente ficam próximos ao muro, estavam olhando para dentro.

O desafio maior, no entanto, foi domar o "Leão", que entrou na pista 3 segundos mais rápido por volta. Na reta, eu desenvolvia uma velocidade melhor que a dele. O problema estava nas freadas e nas saídas de curva, onde o Williams era bem mais rápido.

A solução- manter o carro sempre no traçado, impedindo a ultrapassagem e me proporcionando aderência nos pneus, completamente desgastados naquele momento.

Outro detalhe era ajeitar o carro no meio da curva para permanecer bem reto na saída. Com esse recurso, eu poderia usar toda a potência. Assim, era possível evitar a ultrapassagem no único ponto onde ele tinha vantagem.

Esse triunfo elevou o moral da McLaren. Mas, batendo na mesma tecla, o panorama do campeonato só sofrerá alterações quando houver mudanças radicais no chassi e a introdução da suspensão ativa no carro.

Minha máquina já havia melhorado um pouco no GP de San Marino, quando cheguei em terceiro lugar. A Honda levou uma versão nova do motor RA 122E.

Resultado: o carro perdeu peso, ganhou em performance e ficou mais potente. A expectativa agora está no funcionamento da suspensão ativa, que deverá estrear em Magny-Cours, no dia 5 de julho.

Só ela nos dará uma esperança real de recuperação. E, quem sabe, me brindar com mais uma vitória.

Ayrton Senna em depoimento exclusivo para a revista QUATRO RODAS de Junho de 1992


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