quarta-feira, 18 de junho de 2008

Cooper T43: a primeira vitória de um motor traseiro na F1!

Por Rafael Francisco

Desde o início da categoria nos anos 50, os carros de Fórmula 1 são sinônimo de tecnologia de ponta no automobilismo. Porém, nos primeiros anos, os investimentos eram muito menores do que hoje, a construção dos carros muito mais artesanal, os projetistas ainda tinham noções mínimas sobre conceitos como aerodinâmica e muito mais liberdade para inovar radicalmente em suas criações.

Dentre essas primeiras inovações, a mais importante foi certamente a mudança da posição do motor dos carros: da parte dianteira para a traseira. Diferente do que muitos pensam, carros com motor na traseira existiam na F1 desde 1950. Porém, a primeira vitória só aconteceu no Grande Prêmio da Argentina de 1958, prova vencida por Stirling Moss no seu Cooper T43 Climax.

Mas não se enganem, este carro tinha muito mais inovações tecnológicas do que a simples troca da posição do motor da frente para a parte de trás. O conceito por trás de sua construção era totalmente diferente dos seus rivais. Para começar, o motor deste veículo era cerca de meio litro menor que o máximo permitido pelo regulamento e a potência não passava de 170 cv, contra mais de 300 da concorrência, porém, o bólido pesava ao todo cerca de 400 Kg, contra 600/650 kg de seus principais rivais, assim o menor peso compensava a falta de potência do motor.

Porém, a grande idéia por trás do T43 era a distribuição de peso do carro. Carros com muito peso na dianteira tendem a resistir mais a mudanças de trajetória, principalmente em altas velocidades. Nessas máquinas, o eixo dianteiro tende a ter muito menos aderência que o traseiro e os pilotos, para compensar, deixavam o carro deslizar de traseira e mantinham o volante o mais rigido possivel na dianteira, igualado os atritos e assim conseguindo fazer as curvas sem muitas correções.

Já no T43, a coisa era diferente. Graças a sua distribuição de peso diferenciada, a aderência dos dois eixos era aproximadamente a mesma e as curvas podiam ser feitas de uma maneira muito mais limpa, a uma velocidade maior e com menor gasto de freios e pneus. Ou seja a preocupação maior do projeto não foi aumentar a velocidade máxima do carro, e sim a performance dele em todo circuito e em vários aspectos diferentes. Atualmente as preocupações são bem parecidas. A velocidade máxima de um F1 dos anos 50 chegava perto dos 300 Km/h, enquanto atualmente um F1 não ultrapassa 360 Km/h. Porém a diferença entre as velocidades nas curvas é muito mais drástica. Os vários penduricalhos aerodinâmicos dos carros atuais apenas fazem a vemocidade final de reta diminuir, pois aumentam a resistência do ar, porém , permitem uma aderência e velocidade muito maior nas curvas.

Voltando a década de 50, vale lembrar que nessa época as equipes italianas dominavam a Formula 1 e só em 1957 as equipes inglesas tornaram-se uma ameaça real a esse domínio. E estas eram relutantes a idéia do carro de motor traseiro. O próprio Enzo Ferrari se mostrou várias vezes contrário a idéia do motor traseiro mesmo após algumas vitórias de carros com esse design.

O GP da Argentina de 1958 foi a primeira prova da temporada, devido à distância, ao calor, e aos novos regulamentos do ano com relação ao combustível, apenas 10 carros foram até a Argentina diputar o GP. Moss era piloto da Vanwall mas pediu ao patrão para correr pela Cooper nesta corrida, pois seria o único carro inglês na prova.

Entre os 10 inscritos, sete eram Maserati, duas Ferraris e o pequeno Cooper (compare o tamanho do Cooper atrás, com o Maserati na frente) . Nos treinos, Fangio cravou a pole e Moss fez apenas o sétimo tempo. Porém na corrida a história foi outra. Em 58, o regulamento mudou, tornando as corridas mais curtas, e o carro de Moss perderia muito mais tempo num pit stop que seus adversários por causa do formato das rodas de seu carro. Assim, ele resolveu adotar a estratégia de poupar ao máximo os pneus e não parar nos boxes.

Durante a corrida, Moss conseguiu se manter próximo o suficiente dos ponteiros para que após o pit stop deles assumisse a ponta. Quando seus adversários perceberam que ele não pararia, já era muito tarde e ele conseguiu cruzar a linha em primeiro 2,7 segundos a frente da Ferrari de Luigi Musso em segundo e 12,6 segundos a frente da outra Ferrari de Mike Hawthorn (que seria campeão naquele ano) em terceiro.

Segue a declaração do próprio Moss após a histórica vitória: "Eu estava lá, dirigindo o carro de Rob Walker. Eu disse a ele: 'não podemos nem pensar em parar para trocar pneus, não temos ferramentas apropriadas pra trocá-los e por isso vou economizá-los ao máximo durante toda a prova'. A corrida começou e como geralmente ocorre, a gente tem que ultrapassar um grupo de carros. Fiquei atrás deste grupo, deixando-os para trás nas retas, para poder fazer as curvas sem fechar de mais e usar a pista toda de modo mais suave. Se via óleo, passava por cima. Quando saía das curvas e via que estava tudo sobre o controle, subia na grama para resfriar os pneus. Não tentei assumir a liderança enquanto os pneus dos outros carros não começassem a soltar as lonas, forçando-os a parar nos boxes. Então assumi a liderança, naturalmente, porque foram deixando à pista. Lembro de estar correndo e ver a pista passando e de repente eu estava na frente, quando pensava: 'Não posso parar agora, meu Deus. Vou vencer o Grande Prêmio da Argentina neste pequeno Cooper de motor 2.2 litros'. Quando cruzei a linha de chegada, não consegui acreditar que tinha vencido"

Após essa vitória, os carros com motor traseiro começaram a ser vistos com mais atenção e com o título de Jack Brabham com o Cooper T51 em 1959 a tendência se confirmou. À partir de 1961 todos os carros da Fórmula 1 teriam motor traseiro.

Um comentário:

Unknown disse...

MUITO LEGAL, ESSAS INFORMAÇÕES PARA MIM SÃO NOVIDADE, NÃO TINHA IDÉIA DESSA MUDANÇA NA POSIÇÃO DO MOTOR, FOI MUITO LEGAL ESSA PESQUISA, PARABÉNS.