sábado, 2 de maio de 2009

Ayrton Senna: Como venci em Mônaco,1992

Digitalização e divulgação na internet aos méritos de Fábio Bill.



Como venci o Williams de Nigel Mansell


Vencer pela quinta vez em Mônaco foi muito importante para mim. Mas é preciso encarar a realidade: esse resultado não muda o quadro da temporada. Os Williams são mais velozes que os demais adversários e a derrota na sexta prova do ano só aconteceu em razão de um contratempo de Mansell.

O que fazer então? Eu é que não vou assistir de braços cruzados à supremacia da Williams. Em Mônaco fui à luta porque senti a possibilidade de surpreender logo na largada. Era a chance de ganhar uma posição na freada, se não fizessem muito ziguezague na minha frente.

E, para ser bem sincero, poderia ter ultrapassado também o Mansell na freada.

Faltou mais ousadia. Não acreditei que eles fossem brecar tão cedo e acabei me esforçando para superar apenas o Patrese.

No início da corrida, adotei a es¬tratégia de poupar os pneus. Se tivesse forçado o ritmo, acabaria com eles em pouquíssimas voltas. Atualmente, os motores têm tanta potência que, nas saídas das curvas lentas, a máquina patina muito. Resolvi, então, me empenhar para manter a diferença de 20 segundos que me separava de Mansell.

Foi difícil. Houve momentos em que tive de conversar comigo mesmo para não perder o controle. "Presta atenção, olha a concentração", eu gritava. Consegui conservar a distância até que, na saída da Mirabeau, a menos de 20 voltas, fiquei de frente com o Michele Alboreto atravessado na pista. Parei, engatei a primeira e perdi uns 10 segundos.

Vi a luz no fim do túnel de Mônaco quando Mansell parou nos boxes para trocar os pneus. Eu ia novamente correr para vencer. Ao entrar na reta, percebi que Mansell ainda não havia saído, porque os engenheiros, que geralmente ficam próximos ao muro, estavam olhando para dentro.

O desafio maior, no entanto, foi domar o "Leão", que entrou na pista 3 segundos mais rápido por volta. Na reta, eu desenvolvia uma velocidade melhor que a dele. O problema estava nas freadas e nas saídas de curva, onde o Williams era bem mais rápido.

A solução- manter o carro sempre no traçado, impedindo a ultrapassagem e me proporcionando aderência nos pneus, completamente desgastados naquele momento.

Outro detalhe era ajeitar o carro no meio da curva para permanecer bem reto na saída. Com esse recurso, eu poderia usar toda a potência. Assim, era possível evitar a ultrapassagem no único ponto onde ele tinha vantagem.

Esse triunfo elevou o moral da McLaren. Mas, batendo na mesma tecla, o panorama do campeonato só sofrerá alterações quando houver mudanças radicais no chassi e a introdução da suspensão ativa no carro.

Minha máquina já havia melhorado um pouco no GP de San Marino, quando cheguei em terceiro lugar. A Honda levou uma versão nova do motor RA 122E.

Resultado: o carro perdeu peso, ganhou em performance e ficou mais potente. A expectativa agora está no funcionamento da suspensão ativa, que deverá estrear em Magny-Cours, no dia 5 de julho.

Só ela nos dará uma esperança real de recuperação. E, quem sabe, me brindar com mais uma vitória.

Ayrton Senna em depoimento exclusivo para a revista QUATRO RODAS de Junho de 1992


sexta-feira, 1 de maio de 2009

Frases sobre Ayrton Senna 1

Alain Prost (ex-piloto de Fórmula 1)
"Senna era muito mais rápido que você conduzindo o mesmo carro e tão rápido quanto com um carro inferior"

"Infelizmente a sua morte era previsível, pois como se costuma dizer, ele estava indo mais rápido do que os carros que pilotava"

Bernie Ecclestone (dono dos direitos da Fórmula 1)
"Ayrton teria feito coisas ainda melhores que as que Michael conquistou se não tivesse morrido em Ímola. Acho que Michael é super, mas se eles estivessem com o mesmo carro, eu apostaria meu dinheiro em Ayrton"

"O episódio da morte de Senna foi como se Jesus tivesse sido crucificado ao vivo pela televisão"

"Senna morreu e agora a Fórmula 1 está mais popular do que nunca"

Bruno Senna (piloto e sobrinho de Ayrton Senna)
"Não esperem que eu seja como Ayrton. Eu me chamo Bruno, tenho a minha carreira no esporte e é assim que eu me sinto"

Damon Hill (ex-piloto de Fórmula 1)
"Não tenho dúvidas de que nunca seria campeão do mundo se Ayrton não tivesse morrido em Ímola"

Emerson Fittipaldi (ex-piloto de Fórmula 1)
"A maior marca do Ayrton foi esse patriotismo. Isso foi o que mais ficou marcado e certamente do que as pessoas mais se lembram"

Enzo Ferrari (fundador da Ferrari)
"Me recordo de uma volta de Senna em Mônaco que valeu uma placa, a volta mais perfeita que um piloto já fez"

Felipe Massa (piloto da Ferrari)
"Não cheguei a conhecê-lo pessoalmente. Quando era criança, nem me lembro mais em que ano, me aproximei dele em Ilhabela para pedir um autógrafo. Não me deu. Fiquei aborrecido por um tempo, mas passou"

Frank Williams (dono da equipe Williams)
"Senna era tão rápido e tão corajoso quanto Schumacher, mas era provavelmente mais inteligente. Ele sempre planejava pelo menos três ou quatro movimentos à frente. Senna tinha uma preparação mental impressionante"

Gerhard Berger (ex-companheiro de equipe na McLaren)
"Senna não era uma pessoa comum. Na verdade, ele era um homem muito maior fora do que dentro do carro"

Jackie Stewart (ex-piloto de Fórmula 1)
"Senna foi um dos maiores talentos que já vimos nas pistas"

"Sua perda é impossível de se calcular. Quem nunca o conheceu, em qualquer circunstância, perdeu algo muito especial"

Joe Ramirez (ex-coordenador da McLaren)
"Existe uma diferença fundamental entre Ayrton Senna e Alain Prost. Ayrton tem uma necessidade de vencer corridas, enquanto Alain se diverte correndo e ganhando corridas"

John Watson (ex-piloto australiano)
"Nunca tinha visto alguém pilotar daquele jeito. Em plena curva, Ayrton estava freando, reduzindo a marcha, girando o volante, acelerando e mantendo a pressão do turbo. Parecia um polvo. Ver essa habilidade cerebral de separar os componentes e juntá-los com essa coordenação foi um privilégio"

Juan Manuel Fangio (ex-piloto de Fórmula 1)
"A Senna pouco importava se a pista estava molhada. O intuito dele era voar e em segundos violar todas as leis da física"

"Pensei que ele nunca morreria"

Max Mosley (presidente da FIA e que não foi ao funeral de Senna)
"Eu fui ao funeral (de Roland Ratzenberger, morto um dia antes de Senna) porque todos estavam no de Senna. Achei que era importante que alguém fosse a esse"

Michael Schumacher (ex-piloto de Fórmula 1)
"O que aconteceu é tão dramático e triste que eu nem sinto satisfação por ganhar (o GP de San Marino de 1994)"

"Se Senna não tivesse morrido, não teria conquistado os títulos de 1994 e 1995 porque ele era melhor que eu"

Nelson Piquet (ex-piloto de Fórmula 1)
"Senna é o melhor piloto? P... nenhuma! Melhor é o Prost, que é tetracampeão"

"Eu e o Prost já ganhamos tudo e estamos mais pra lá do que pra cá na carreira. O Ayrton, não. Vai se matar, se for preciso, para chegar ao título e ser considerado o maior de todos os tempos"

Pedro Lamy (ex-piloto de Fórmula 1)
"Em Ímola, Ayrton Senna morreu no exato momento do acidente"

Peter Warr (ex-diretor da Lotus)
"Senna era capaz de determinar em que ponto do circuito o carro dele gastava um decilitro de gasolina a mais. Nessa época, a Lotus de Senna tinha motor turbo, e esse controle era quase impossível de ser feito. Mas ele o fazia com precisão de relógio suíço"

Ron Dennis (ex-chefe da McLaren)
"O melhor piloto com quem já trabalhei foi Ayrton, e isso não apenas por sua performance na pista, mas por sua amizade e clareza. Passamos muitos anos juntos, e eu dividi com ele suas angústias e alegrias. Considero que isto foi um privilégio para mim"

Rubens Barrichello (piloto de Fórmula 1)
"Se não fosse por sua morte, todos os recordes de Schumacher seriam de Senna, que foi simplesmente o melhor piloto de todos os tempos. Descanse em paz e com Deus"

Sid Watkins (ex-médico da Fórmula 1)
"Eu tinha muito apreço por ele e nos dávamos muito, muito bem. Era um vínculo muito peculiar, que eu não tive com nenhum outro piloto. E ele virou parte da minha família. Ele se dava bem com os meus filhos, era sempre agradável e eles quando eram crianças o idolatravam. Ele foi um dos melhores pilotos de todos os tempos, para mim o melhor. Ele era extremamente agressivo, ele era capaz de ultrapassar sem a menor hesitação. Esta era uma das suas grandes habilidades. E ele era muito, muito, veloz"

Entrevista de Ayrton Senna à Quatro Rodas após o Tricampeonato de Fórmula Um

Entrevista concedida à revista Quatro Rodas em novembro de 1991, após conquistar o terceiro título. Digitalização a cargo de Fábio Bill.


Amadurecido, Senna persegue a fórmula do equilíbrio entre as emoções do piloto e do homem


O que amadurece um homem? A fama, a fortuna ou o encontro consigo mesmo? No caso de Ayrton Senna, o piloto é um exemplo de profissional bem-sucedido, rico, famoso, invejado, recordista.

Embora satisfeito com o sucesso, sente-se que, em seus momentos de reflexão, o homem supera o mito, volta à Terra e confessa que outras emoções invadem a sua alma, tornando-se convenientemente humano, autocrítico e preocupado com valores tão comuns e desejos tão prosaicos que surpreenderiam o mais idólatra de seus fãs.

Sensível à vida fora da milionária Fórmula 1, Senna preocupa-se com as guerras, sofre com as injustiças e inquieta-se com o desamor, mergulhando numa profunda melancolia bem própria dos mortais.

Confessa-se um tipo imperfeito, luta para melhorar, teme a Deus e emociona-se com o sorriso das crianças.

Enfim, um homem frágil, sonhador e carente. Muito mais sensível do que o Senna que ganhou o primeiro título há três anos.


QUATRO RODAS — Você teve mais trabalho enfrentando a dobradinha da Williams, Mansell e Patrese, do que coM o Prost. seu adversário natural nos últimos três anos?

AYRTON SENNA— Foi. A Williams entrou o ano com um carro inovador, uma máquina extremamente eficaz. Teve, é verdade, alguns problemas de confiabilidade, resultado da tecnologia que adotou para esta temporada. Mas, a partir do momento em que eles adquiriram a confiabilidade, a vantagem técnica sobre as demais equipes se acentuou. Não foi fácil compensar ou tentar se igualar. E, como você mesmo disse, não competi apenas contra um. mas sim dois adversários [suspiro]. Foi muito difícil. Mas as vitórias nas quatro pri-meiras corridas contaram muito a nosso favor.

QUATRO RODAS — Mudaram os adversários e também as dificuldades?

SENNA— Foi altamente gratificante, porque, apesar de todo o empenho e da dedicação que nos foi exigida, a gente continuou a luta pelo título, encontrando as soluções para cada dificuldade surgida durante a temporada.

QUATRO RODAS— Você teve um ano de sustos, principalmente nos treinos do GP do México e nos testes de pneus em Hockenheim. Foram acidentes por andar além do limite — na tentativa de atingir a performance da Williams — ou erros seus?

SENNA [grave, testa franzida] —De certa forma, uma dose de erro meu ao julgar mal uma situação, ao extrapolar um pouco. De outra, uma falta de material para atingir o nível que a competição exigia naqueles momentos. E uma dosezinha de risco que faz parte da profissão. As vezes, você é pego de surpresa. Acho que foi a soma desses fatores.

QUATRO RODAS — As vitórias na Hungria e na Bélgica parecem ter tido muita importância, pois naquele momento o campeonato começava a pender para o lado da Williams, não?

SENNA— Realmente, no meio do ano a situação estava crítica, apesar de termos alguns pontos de vantagem. As vitórias na Hungria e na Bélgica foram extremamente difíceis. A gente conseguiu ar para respirar [respira fundo]. E depois fomos juntando resultados daqui e dali, tirando tudo o que o carro permitia.

QUATRO RODAS — A McLaren é uma equipe grande, muito organizada e séria. Como é a sua relação de trabalho com ela?

SENNA— A McLaren é grande e à inglesa, o que faz o ambiente de trabalho parecer de muita seriedade. Mas existe também um empenho para quebrar esse gelo, que às vezes até incomoda. Tenta-se uma distensão, uma brincadeira. Como piloto, tenho que esticar a corda até o último milímetro para conseguir alguma coisa. Mas em outras ocasiões tenho que agir diferente: largar totalmente para que as pessoas façam as coisas mais tranqüilamente. Enfim, ser muito flexível, jogar de um extremo ao outro, de acordo com a situação.

QUATRO RODAS — Mas você é um piloto exigente, cobrador...

SENNA— Sou uma pessoa exigente comigo. E da mesma forma que exijo de mim, profissionalmente, cobro uma correspondência no mesmo nível daqueles que traba¬lham ao meu lado.

QUATRO RODAS — E um Fórmula-1 competitivo, o que representa na sua filosofia de felicidade?

SENNA — Está diretamente ligada ao potencial da máquina que me colocam à disposição. Um carro competitivo representa a possibilidade de lutar por uma vitória, por um campeonato. A chance de evoluir como piloto. Logo, o encontro com meu objetivo de ser vencedor. Um carro não competitivo vai em direção oposta a todos os princípios que tenho como motivação para a minha carreira.

QUATRO RODAS — Mesmo que você evite esse tema, são suas atitudes que detonam as grandes mudanças na F 1. Todo o circo, por exemplo, esperou sua definição pela McLaren para que os outros contratos fossem acertados...

SENNA— Sim, e daí?

QUATRO RODAS — Daí que você interfere em tudo na F 1, dentro e fora da pista, certo?

SENNA [um pouco conformado] — É, eu não sei se interferir é a palavra mais adequada. O certo talvez seja dizer que por estar numa grande equipe, que ganhou os títulos nos últimos quatro anos, automaticamente me coloco numa situação de responsabilidade, mas também de privilégio, por ter todas as opções disponíveis tanto no aspecto técnico como no comercial. Só que isso é apenas conseqüência do sucesso, mera conseqüência [dando de ombros].

QUATRO RODAS — Mera conseqüência que acabou por decidir o futuro de Nigel Mansell, no início desta temporada, quando ele estava decidido a abandonar a F 1...

SENNA [silêncio demorado, enchendo as bochechas de ar e soprando vagarosamente] — Em relação ao Mansell, eu acho que ele passou momentos muito difíceis na Ferrari, no ano passado, provocados pela convivência com o Prost. Tanto que chegou ao ponto de anunciar que iria parar de correr. De repente, essa situação se modificou, sabe-se lá por que razão.

QUATRO RODAS — Mas o Mansell disse que você foi decisivo na permanência dele nas pistas, por quê?

SENNA [meio encabulado] — Tudo o que fiz foi dizer que tinha negociado forte com a Williams [antes de renovar com a McLaren, no fim do ano passado] e achava que ele não deveria descartar a possibilidade de continuar na F 1. Acreditava que a Williams, com seu carro novo, era uma boa alternativa para ele. Tecnicamente e comercialmente, a equipe tinha meios de fazer uma boa oferta. Acho que isso contribuiu para que o Mansell se sentisse mais motivado. Mas foi uma decisão dele.

QUATRO RODAS — De qualquer forma, você contribuiu para ter na pista seu maior adversário ao tri-campeonato...

SENNA [rápido] — Ah, sem dúvida. Eu sabia disso, ele sempre foi um piloto forte, rápido. Um pouco instável, mas forte. Porém, naquela altura eu não estava levando isso em consideração. Eu simplesmente olhei a posição crítica dele e imaginei as dificuldades que estava passando na Ferrari. Afinal, eu já trabalhei com o Prost e sei exatamente o quanto é difícil conviver com ele.

QUATRO RODAS — Mas o Mansell chegou a criticar você e a elogiar o Prost antes desse episódio, não?

SENNA [estalando os nós dos dedos, sorriso velado e um certo ar de satisfação] — O Mansell, antes de trabalhar com o Prost, tinha uma idéia bem diferente — ele era contra mim. Mudou totalmente depois de trabalhar com Prost, porque sentiu na pele o que significa conviver com o francês. Foi por isso que eu resolvi dar um empurrão.

QUATRO RODAS— Você é um cidadão de um país de Terceiro Mundo e um piloto do primeiríssimo. O que representa esta diferença?

SENNA— Você acompanha a minha carreira desde o início e sabe os benefícios e também as dificuldades que isso me trouxe. Sim. porque ser brasileiro não traz apenas dificuldades. Pelo menos é assim que eu penso. Depois de dez anos fora do Brasil e tendo uma situação privilegiada, estou numa posição de responsabilidade perante tanta gente que me acompanha com entusiasmo. Então, o fato de ser brasileiro com relação ao que eu faço, ao que fiz, ao que sou, só me enche de orgulho.

QUATRO RODAS — Sempre?

SENNA— Tem certos momentos que o fato de ser brasileiro poderia causar alguns constrangimentos devido à situação em que o Brasil se encontra. Mas eu estou com a cabeça feita. Dentro da minha atividade e das minhas possibilidades, atingi um nível de credibilidade e de admiração. Coisas, creio, que todo o ser humano gostaria de alcançar. Por isso, só tenho motivos para me alegrar por ser brasileiro.

QUATRO RODAS — Quando você assinou o seu atual contrato com a McLaren — durante o GP de Portugal —, afirmou: "Eu tenho tudo o que quero''. Realmente não falta nada mais a alcançar?

SENNA— Olha. eu encaro cada ano como um desafio. Primeiro, era chegar à F1; depois, vencer a primeira prova, a primeira pole position. Eu fui preenchendo todos esses sonhos, todos os desejos. Aí veio o primeiro título mundial; o desafio do segundo, no qual, de alguma forma, tentaram me passar uma rasteira. Mas foi uma rasteira que acabou se transformando numa reconquista, numa auto-afirmação para mim.

QUATRO RODAS — O Alain Prost, aliás, disse que nenhum piloto vale um contrato de 15 milhões de dólares por ano.

SENNA— Eu acho que tem gente que vale mais que essa quantia e outros que valem menos. Tudo é uma questão de valor. Cada pessoa tem suas qualidades e defeitos. Não existem duas iguais no mundo.

QUATRO RODAS — Bom, mas você tem mesmo tudo o que quer?

SENNA— Bem, isso é relativo ao dia de hoje. ao momento em que eu vivo agora. Em relação ao futuro... [pausa] ...tenho outras ambições. Não vejo a ambição como um defeito, desde que seja um sentimento controlado e equilibrado. [Quase num tom de oração.] Eu sou um homem que sonha, que gosta de evoluir constantemente em todos os sentidos. Eu, com certeza, só quero melhorar. Seja com as pessoas que vivem diretamente ligadas a mim, seja como profissional. Quero melhorar o relacionamento comigo mesmo.

QUATRO RODAS— E há algum conflito?

SENNA[sem tomar conhecimento da pergunta, tocando a mão à altura do coração, segue sua auto-análise] — Quero estar em paz com a vida que eu levo, com meu estilo de viver, com o que me espera no futuro. Enfim, quero melhorar em tudo o que for possível.

QUATRO RODAS — E, além de todos esses propósitos, existe um mais especial?

SENNA— Melhorar também no sentido de um dia constituir uma extensão da minha atual família, que seria uma nova vida. um casamento, crianças. Tudo o que faz parte da vida de um homem, de uma mulher.

QUATRO RODAS — Você tem falado muito em casamento e crianças. Você gosta mesmo de crianças?

SENNA[terno, como se recordasse de alguém] — Eu hoje gosto mais de crianças do que gostava há um ou dois anos. Acho que isso é algo que vai amadurecendo no coração da gente. A medida que o tempo vai passando, esse sentimento cresce.

QUATRO RODAS — Além do tempo, o que despertou esse sentimento em você?

SENNA [um tanto vulnerável] — A gente vive hoje em um mundo duro, que machuca qualquer pessoa. E fica cada vez mais difícil viver nele — ou apenas sobreviver. E, mesmo no meu mundo, que para tanta gente é irreal, eu tenho muita coisa boa, mas também enormes dificuldades. Entre tantas conquistas, também tive grandes perdas, frustrações. Por isso a tendência de procurar cada vez mais um relacionamento sincero com pessoas em que a gente acredite e possa confiar. A criança, mesmo que seja uma criaturinha que você nunca viu, tem por natureza algo de muito puro dentro de si para oferecer, demonstrar ou dividir. Assim, é muito mais fácil se comunicar com uma criança. Basta trocar um olhar, um sorriso, um simples gesto.

QUATRO RODAS— Como piloto, você é transparente, o mundo conhece seus recordes, sua carreira. Mas alguém, fora da sua família, conhece o homem Ayrton Senna?

SENNA [um tanto irónico] — Eu acho que as pessoas de coração aberto me conhecem melhor do que as de coração fechado.

QUATRO RODAS— A fama implica alguma perda nesse processo?

SENNA — A fama trabalha diretamente contra a privacidade e a nossa liberdade. E um conflito constante.

QUATRO RODAS— E o dinheiro?

SENNA— A rigor, só trouxe muitas emoções para mim. E. até hoje, no geral, tem proporcionado coisas boas. Mas ele é um risco no mundo moderno [pausa, riso tímido] para quem o tem.

QUATRO RODAS — E para quem não o tem?

SENNA— Para quem não tem dinheiro, é um problema também sério. Mas eu prefiro olhar para o lado positivo. Apenas pelo benefício que o dinheiro me deu. Em resumo, ele veio do sucesso que obtive.

QUATRO RODAS — Agora, algumas definições do cidadão Ayrton Senna. Política?

SENNA— É algo de que eu não gosto.

QUATRO RODAS — O que é arte para você?

SENNA— É o modo de cada um se expressar e ser.

QUATRO RODAS— E qual é o tipo de arte que mais o sensibiliza?

SENNA— Eu sou muito ligado no som, na música.

QUATRO RODAS — Mas você é de assoviar, cantarolar uma música?

SENNA— Sou, e muito. Claro que só nos momentos de descontração. Infelizmente a F1 é muito tensa e encobre essa minha maneira de ser.

QUATRO RODAS — Você se declarava fã de Milton Nascimento. Ainda curte a música dele?

SENNA— Eu adoro a música brasileira. Hoje gosto muito mais de música do que há cinco anos. Ampliei meu gosto, que vai da MPB ao clássico ou à New Age. Gosto de tudo, com raras restrições. Ouço Bach, Mozart, Chopin, Beethoven onde quer que eu vá.

QUATRO RODAS — Quais são os seus carros de rua?

SENNA [apontando para o Honda NSX vermelho placa SX-2559] — Aquele ali, mais um Monza da GM que tenho em Mônaco, além de uma perua Mercedes e um Gol que uso no Brasil.

QUATRO RODAS — Quem fabrica os melhores carros convencionais: Estados Unidos, Europa ou Japão?

SENNA— Os japoneses e os alemães.

QUATRO RODAS — Em matéria de segurança ou desempenho?

SENNA— Em tudo. Eles têm a melhor tecnologia atualmente.

QUATRO RODAS — E os carros brasileiros?

SENNA— Os brasileiros... Bem. acho que com a abertura da importação eles estão evoluindo. Mas ainda têm muito a progredir. Temos as multinacionais que produzem os mesmos carros feitos em outros países. É apenas uma questão de troca de tecnologia e um compromisso maior com a segurança, o conforto, a qualidade e o desempenho. Algo sobre como cada companhia deverá se posicionar em relação ao futuro do carro brasileiro.

QUATRO RODAS — E o mundo atual, com fome de guerras, o preocupa?

SENNA — Atualmente, tudo o que acontece no mundo, seja o que for, corre rapidamente por todo o planeta. Mas as guerras, os conflitos, sempre existiram. As tragédias e as alegrias fazem parte da história do homem. O mundo não mudou nada. Existe, isso sim, uma conscientização maior das conseqüências das tragédias.

QUATRO RODAS— E Deus?

SENNA [silêncio profundo] — Ele está aí, vivo para todo mundo, para todos que quiserem vê-lo. Para uns, mais próximo; para outros, um pouco mais distante. É uma questão de procurar e de querer.

QUATRO RODAS — Você encontra ou procura mais por Ele?

SENNA [sério, praticamente em meditação] — Eu preciso muito Dele. É uma fonte de vida muito grande para mim. De uns anos para cá, essa presença se acentuou em minha vida, no meu dia-a-dia.

QUATRO RODAS — E você tem a paz interior que sempre busca?

SENNA— A paz é muito importante no estilo de vida que eu levo. É necessária para se ter equilíbrio, suportar viagens, pressão, stress, cobrança, responsabilidade, perigos. Se você não estiver em paz, não consegue conviver com tudo isso.

QUATRO RODAS — Qual é a sua receita para se ter paz interior?

SENNA— A paz, creio, vem do caráter, da educação, da sua personalidade. A partir do momento em que você é integralmente responsável por suas atitudes, pelo seu futuro, passa a fortalecer uma situação de equilíbrio e paz. Depois, depende da sua forma de administrar o seu crescimento.

QUATRO RODAS— E sobre o amor?

SENNA [sorriso, agrada-lhe muito a definição que vai dar] — É um sentimento que sempre gritou alto no meu peito, desde criança, e continua forte como nunca.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Um Livro

Um livro sobre Juan Manuel Fangio é um livro falando das lendas e situações antológicas da velha Fórmula Um. Um livro com um “que” de Belle Époque.

Um livro falando sobre Jim Clark é um livro sobre a Lotus e sobre Chapman. Sobre a velocidade experimental (e incontestável) nas máquinas de diversas categorias em simultaneidade.

Um livro sobre Stirling Moss é um livro sobre Fangio e sobre Clark. (ou seja, é um grande livro!)

Um livro sobre Emerson Fittipaldi é um livro sobre um sonhador, um apaixonado. Ao invés de "Voando Sobre Rodas", deveria ser "Sonhando Sobre Rodas". Um livro com a cara dos anos 70.

Um livro sobre Nelson Piquet é um livro sobre folclore no paddock, um livro sobre peripécias que ninguém acredita poderem ser feitas dentro do sisudo ambiente da Fórmula Um. É um livro leve, um livro para rir e ser feliz.

Um livro sobre Nigel Mansell é um livro sobre coragem e loucuras. Um livro intenso (e louco).

Um livro sobre Ayrton Senna é um livro que fala de corridas, as melhores corridas de um piloto, corridas que serão mencionadas mesmo daqui a 50 anos, num dos poucos lances de destaque do homem sobre a máquina dentro das pistas.

Um livro sobre Michael Schumacher é um livro sobre recordes. Um livro sobre números e trapaças. Características pelas quais o alemão sempre será lembrado.

Um livro sobre Prost é um livro sobre Senna.

Um livro sobre Berger é um livro sobre Senna (e sobre Prost).

E um livro sobre Rubens Barrichello? Seria um livro sobre outros pilotos? Sobre Schumacher? Sobre como não ser igual a Senna? Ou seria um livro sobre 2009?

Deixo a provocação para vocês responderem. Abraços.

por Enzo Zanchetta

domingo, 19 de abril de 2009

Volande-"básico" dos carros de Fórmula Um


1) Pit lane speed limiter (Limitador de velocidade nas boxes): Evita que os pilotos excedam o limite de velocidade nas boxes. Na maior parte das pistas, o limite no Pit lane é de 120km/h.

2) Differential + (+ Diferencial): Acciona o sistema de engrenagens que permite que as rodas, de um mesmo eixo, girem em velocidades angulares diferentes. NOTA: Ver também 16 e 21.

3) Engine push (Forçar o motor): Dar mais rotação ao motor.

4) Gear upshift (Subir a marcha): Subir a marcha para dar mais velocidade ao carro.

5) Traction control + (+ Controlo de tracção): Aumenta o controlo de tracção para evitar a derrapagem. NOTA: Ver também 8 e 18. Banido em 2008.

6) Engine push setting switch (Mudanças no acerto do motor): Com a alavanca, o piloto pode fazer manualmente alguns ajustes no motor.

7) Clutch lever (Embraiagem): Utilizada antigamente como pedal, actualmente a alavanca da embraiagem é accionada com um simples toque. NOTA: Ver também 15.

8) Traction control (Controlo de tracção): Sistema para evitar que as rodas patinem, especialmente na entrada e saída de curva. NOTA: Ver também 5 e 18. Banido em 2008.

9) Team info inlap (Informações da equipa, volta a volta): Acciona um sistema com informações no ecrã sobre as voltas da equipa.

10) Burn out (Consumo de combustível): Sistema para controlar o consumo de combustível.

11) Multifunctional switch (Alteração multifuncional): Alavanca que permite efectuar ajustes ao consumo de combustível e às rotações do motor.

12) Lambda (Sonda Lambda): Sistema responsável pelo balanceamento da mistura de ar e combustível para que a emissão seja controlada.

13) Diagnostic (Diagnóstico): Disponibiliza informações detalhadas no ecrã sobre o funcionamento do carro.

14) Wing angle info switch (Alteração do ângulo da asa): Alavanca que permite alguns ajustes mínimos na asa do carro.

15) Clutch (Embraiagem): Com apenas um toque, a embraiagem é accionada e em centésimos de segundos a marcha pode ser trocada. NOTA: Ver também 7.

16) Differential selective switch (Mudança na selecção do diferencial): Altera o sistema de engrenagens que permite que as rodas, de um mesmo eixo, girem em velocidades angulares diferentes. NOTA: Ver também 2 e 21.

17) Team radio (Informações via rádio): Acciona o sistema de comunicação via rádio com a equipa e vice-versa.

18) Traction control - (-Controlo de tracção): Diminui o controlo de tracção. NOTA: Ver também 5 e 8. Banido em 2008.

19) Gear downshift (Reduzir marcha): Reduz a marcha para dar menor velocidade ao carro.

20) Engine break (Corte do motor): Botão para reduzir as rotações do motor. Usado especialmente nas últimas voltas da corrida.

21) x Differential - (-Diferencial): Reduz o sistema de engrenagens que permite que as rodas, de um mesmo eixo, girem em velocidades angulares diferentes. NOTA: Ver também 2 e 16.

22) Neutral (Neutro): Botão deixa a caixa de velocidades na posição neutra.

23) Display page chan (Visualização de informações): Botões que mudam a página de exposição no visor.